MÚSICA COMO CRIAÇÃO E DOM DE DEUS
Desde os tempos da igreja antiga e através da igreja medieval
prevaleceram dois paradigmas para o papel da música na vida da igreja.
Shalk resume:
... música como instrutora e música como guardiã da moralidade. O
primeiro refletia a necessidade contínua da igreja por doutrinação,
não só pela necessidade de edificação dos fiéis mas também diante
dos pontos de vista heréticos de fora e apostasia de dentro. O
segundo refletia a influência e importância contínuas do pensamento
de tais filósofos como Platão, Aristóteles e Boethius moldando a
atitude da igreja para com a música.
Já antes do quarto século, São Basílio, refletindo o primeiro destes paradigmas,
dizia em sua Homilia no Salmo Primeiro: “Oh, sábia invenção do mestre que
planejava como poderíamos ao mesmo tempo cantar e aprender coisas
benéficas”. Basílio ainda diz que o Espírito Santo “mesclou o prazer da melodia
com doutrinas a fim de que através da agradabilidade e suavidade do som
possamos inconscientemente receber o que era proveitoso nas palavras.”
Por outro lado, Basílio também se preocupou com os perigos da música
dizendo que “os cristãos não sejam arrastados pelo prazer da melodia às paixões
da carne.” Nas suas Confissões, Agostinho disse: “As diferentes afeições de
nosso espírito têm suas próprias disposições de ânimo correspondentes à sua
variedade na voz e canto e por alguma associação secreta elas podem ser
instigadas." Por isso advertiu sobre o perigo da música associada ao texto:
“Cada vez que acontece comigo de ser mais movido com a voz do que com o
poema, confesso a mim mesmo que tenho ofendido gravemente; neste momento
eu desejaria de preferência não ter ouvido a música.”
No século XVI Calvino seguiu os passos de Agostinho e advertiu a
respeito da música como guardiã e moldadora da moralidade:
Dificilmente há no mundo alguma coisa com mais poder de mudar ou
submeter, dessa maneira, a moralidade dos homens ... Ela tem um
poder secreto de mover nossos corações de uma maneira ou outra.
Portanto temos que ser mais diligentes em regulamentá-la de tal maneira
que ela possa ser proveitosa a nós e de nenhuma maneira perniciosa.
Lutero não via grande perigo em se utilizar melodias para os textos
sacros. No “Prefácio ao Hinário Wittenberguense de 1524” ele escreve:
No meu entender, nenhum cristão ignora que o canto de hinos sacros seja
bom e agradável a Deus, uma vez que todo mundo tem não apenas o
exemplo dos profetas e reis no Antigo Testamento (que louvaram a Deus
cantando e tocando, com versos e toda a espécie de música de corda), mas
este costume, particularmente no tocante aos salmos, é conhecido da
cristandade em geral desde o começo. O próprio S. Paulo o institui em 1Co
14[.26] e ordena aos colossenses que cantem com vontade ao Senhor hinos
sacros e salmos, para que desta maneira a Palavra de Deus e a doutrina
cristã sejam propagadas e exercitadas das mais diversas maneiras.
Lutero enfatiza que os hinos
foram arranjados a quatro vozes por nenhuma outra razão senão o
meu desejo de que a juventude, a qual afinal de contas deve e precisa
ser educada na música e em outras artes dignas, tenha algo com
que se livre das canções de amor e dos cantos carnais para, em
lugar destes, aprender algo sadio, de modo que o bem seja assimilado
com vontade pelos jovens, como lhes compete.
Para Lutero, o mais importante concernente à música para a vida e
culto do povo de Deus era música como criação e dom de Deus. Discorda
dos entusiastas que condenam e até destroem arte sacra de qualquer tipo.
No prefácio do mesmo hinário ele ainda escreve:
Também não sou da opinião de que, pelo Evangelho, todas as artes
devam ser massacradas e desaparecer, como pretendem alguns
pseudo-espirituais. Na verdade, eu gostaria que todas as artes,
particularmente a música, estivessem a serviço daquele que as
concedeu e criou. Por isso eu peço que todo cristão de valor
receba isto de bom grado e ajude a promovê-lo, caso Deus lho
tenha concedido igualmente ou até mais.
No seu escrito Symphoniae iucundae, dirigido a Jorge Rhau, Lutero diz:
Eu certamente gostaria de exaltar a música de todo o meu coração
como o dom excelente de Deus que é e recomendá-la a todos...
E você, meu jovem amigo, deixe que esta nobre, salutar e alegre criação
de Deus seja recomendada a você ... Ao mesmo tempo você passa por
habituar-se a reconhecer e louvar o Criador.
Em seu “Tratado nas Últimas Palavras de Davi” (1543), Lutero observa
que esta “maravilhosa criação e dom de Deus” ajuda consideravelmente a
entender e proclamar o Messias, além do mero ler e falar.
O livro dos Salmos é uma doce e agradável canção porque ele
canta e proclama o Messias mesmo quando uma pessoa não canta
as notas mas meramente recita e pronuncia as palavras. Contudo a
música, ou as notas, que são uma maravilhosa criação e dom de
Deus, ajudam consideravelmente nisto, especialmente quando o povo
canta junto e participa reverentemente.
Nas suas “Conversas de Mesa” Lutero enfatiza a música como dom de
Deus que precisa ser ensinado à juventude em contraste como os fanáticos
que pensam diferentemente.
A música é um dom destacado de Deus o mais próximo da teologia.
Eu não gostaria de desistir do meu superficial conhecimento de
música nem por um grande motivo. E à juventude deveria ser
ensinada esta arte; pois ela faz pessoas excelentes e habilitadas.68
Não fico satisfeito com aquele que despreza a música, como todo
os fanáticos o fazem; a música é uma qualidade e dom de Deus,
não um dom dos homens ... Eu coloco a música após a teologia e
lhe dou o maior louvor.
O dom da música também estimulava Lutero à pregação: “A música é
maior dom de Deus. Tantas vezes ela tem-me estimulado e incitado que eu
senti o desejo de pregar”.
Lutero cita Pitágoras para enfatizar a música como dom de Deus, pois ela
estaria inserida na “harmonia das esferas” estabelecida dentro da criação em
si. “Não nos maravilhamos diante dos outros dons incontáveis da criação por
que ficamos surdos àquilo que Pitágoras com aptidão denomina esta
maravilhosa e mais amável música vinda da harmonia do movimento que
existe nas esferas celestes”. A razão humana não vê a criação divina, mas
os cristãos, através do Espírito, vêem tudo como beneficio de Deus. “A razão
vê o mundo como extremamente perverso e por isso ela murmura. O Espírito
nada vê senão os benéficos de Deus no mundo e por isso começa a cantar”.
Schalk concluiu: “Os resultados práticos de uma tal visão eram, para Lutero,
perfeitamente óbvios. Quando a música é vista primeiramente como dom de
Deus, ela é estabelecida como a mais próxima da teologia, e isto dá à igreja a
liberdade de usar toda a música sem medo”.Lutero complementa: “Quando
o ensino [musical] e música artística que corrige, desenvolve e refina a música
natural é acrescentado a tudo isso, então finalmente é possível experimentar
com admiração (ainda que não compreendendo) a visão absoluta e perfeita
de Deus em seu maravilhoso trabalho de música.
Podemos destacar que Lutero tem uma visão ampla sobre a música
adequada para a igreja. Desde o tempo do canto gregoriano até a reforma
desenvolveu-se uma música sofisticada da qual o povo não tinha condições
de participar. A tradição calvinista expurgou da igreja esta música sofisticada
e permitiu apenas o canto de salmos metrificados a capela. Lutero, no entanto,
procurou deixar uma forma diversificada de música. O canto congregacional
era para o povo participar; e o canto polifônico para o povo ouvir.
Em 1538 Lutero escreveu o “Prefácio a Todos os Bons Hinários” para
o texto de João Walter “Louvor e Exaltação da Louvável Arte da Música”.
Este texto também foi publicado no hinário de Klug, em 1543. É um louvor
à “Dona Música”, onde Lutero exprime seu apreço à música, fundamentado
na doutrina da justificação. Eis o texto:
Dona Música.
Dentre todos os prazeres sobre a terra
não há maior que seja dada a alguém
do que aquela que eu proporciono com meu canto
e com certas doces sonoridades.
Não pode haver má intenção
onde houver companheiros cantando bem,
ali não fica zanga, briga, ódio nem inveja,
toda mágoa tem que ceder,
mesquinhez, preocupação e o que mais atribular
se vai com todas as tristezas.
Além disso, cada qual tem o direito
desse prazer não ser pecado,
mas, ao invés, agrada a Deus muito mais
do que todos os prazeres do mundo inteiro.
Ela destrói a obra do diabo
e impede que muitos malvados matem.
Isto demonstra o ato do rei Davi
que muitas vezes, com doce toque da harpa,
impediu que Saul praticasse grande matança.
Para a palavra e verdade divina
ela silencia e prepara o coração.
Isto Eliseu declarou,
ao encontrar o espírito pela execução da harpa.
A melhor época do ano é para mim
quando cantam todos os passarinhos,
enchendo os céus e a terra
com canto agradável e abundante.
Puxa a frente o rouxinol querido
alegrando tudo em toda parte
com seu canto maravilhoso;
por isso, devemos ser-lhe sempre agradecidos
mais ainda ao amado Deus Senhor
que assim a criou
de modo a ser uma grande cantora
maestrina da música.
Para ele ela canta e dança noite e dia;
ela por nada se cansa do seu louvor,
e ele glorifica e louva também o meu canto
e lhe expressa um agradecimento eterno.75
Schalk conclui:
Ao enfatizar a música como criação de Deus, não do povo, e como dom
de Deus ao povo para usar em seu louvor e adoração, Lutero fixou o
palco para a liberdade dos compositores, congregações, coros e
instrumentistas desenvolveram seus talentos e habilidades ao mais alto
grau possível. A música que se desenvolveu na tradição luterana é um
eloqüente testemunho de que a igreja, junto com seus músicos, achou o
paradigma de Lutero, da música como criação e dom de Deus, ser um
elemento construtivo preeminente no desenvolvimento de uma rica cultura
musical na qual se possa viver, trabalhar, tocar música e louvar seu Deus.
Desde os tempos da igreja antiga e através da igreja medieval
prevaleceram dois paradigmas para o papel da música na vida da igreja.
Shalk resume:
... música como instrutora e música como guardiã da moralidade. O
primeiro refletia a necessidade contínua da igreja por doutrinação,
não só pela necessidade de edificação dos fiéis mas também diante
dos pontos de vista heréticos de fora e apostasia de dentro. O
segundo refletia a influência e importância contínuas do pensamento
de tais filósofos como Platão, Aristóteles e Boethius moldando a
atitude da igreja para com a música.
Já antes do quarto século, São Basílio, refletindo o primeiro destes paradigmas,
dizia em sua Homilia no Salmo Primeiro: “Oh, sábia invenção do mestre que
planejava como poderíamos ao mesmo tempo cantar e aprender coisas
benéficas”. Basílio ainda diz que o Espírito Santo “mesclou o prazer da melodia
com doutrinas a fim de que através da agradabilidade e suavidade do som
possamos inconscientemente receber o que era proveitoso nas palavras.”
Por outro lado, Basílio também se preocupou com os perigos da música
dizendo que “os cristãos não sejam arrastados pelo prazer da melodia às paixões
da carne.” Nas suas Confissões, Agostinho disse: “As diferentes afeições de
nosso espírito têm suas próprias disposições de ânimo correspondentes à sua
variedade na voz e canto e por alguma associação secreta elas podem ser
instigadas." Por isso advertiu sobre o perigo da música associada ao texto:
“Cada vez que acontece comigo de ser mais movido com a voz do que com o
poema, confesso a mim mesmo que tenho ofendido gravemente; neste momento
eu desejaria de preferência não ter ouvido a música.”
No século XVI Calvino seguiu os passos de Agostinho e advertiu a
respeito da música como guardiã e moldadora da moralidade:
Dificilmente há no mundo alguma coisa com mais poder de mudar ou
submeter, dessa maneira, a moralidade dos homens ... Ela tem um
poder secreto de mover nossos corações de uma maneira ou outra.
Portanto temos que ser mais diligentes em regulamentá-la de tal maneira
que ela possa ser proveitosa a nós e de nenhuma maneira perniciosa.
Lutero não via grande perigo em se utilizar melodias para os textos
sacros. No “Prefácio ao Hinário Wittenberguense de 1524” ele escreve:
No meu entender, nenhum cristão ignora que o canto de hinos sacros seja
bom e agradável a Deus, uma vez que todo mundo tem não apenas o
exemplo dos profetas e reis no Antigo Testamento (que louvaram a Deus
cantando e tocando, com versos e toda a espécie de música de corda), mas
este costume, particularmente no tocante aos salmos, é conhecido da
cristandade em geral desde o começo. O próprio S. Paulo o institui em 1Co
14[.26] e ordena aos colossenses que cantem com vontade ao Senhor hinos
sacros e salmos, para que desta maneira a Palavra de Deus e a doutrina
cristã sejam propagadas e exercitadas das mais diversas maneiras.
Lutero enfatiza que os hinos
foram arranjados a quatro vozes por nenhuma outra razão senão o
meu desejo de que a juventude, a qual afinal de contas deve e precisa
ser educada na música e em outras artes dignas, tenha algo com
que se livre das canções de amor e dos cantos carnais para, em
lugar destes, aprender algo sadio, de modo que o bem seja assimilado
com vontade pelos jovens, como lhes compete.
Para Lutero, o mais importante concernente à música para a vida e
culto do povo de Deus era música como criação e dom de Deus. Discorda
dos entusiastas que condenam e até destroem arte sacra de qualquer tipo.
No prefácio do mesmo hinário ele ainda escreve:
Também não sou da opinião de que, pelo Evangelho, todas as artes
devam ser massacradas e desaparecer, como pretendem alguns
pseudo-espirituais. Na verdade, eu gostaria que todas as artes,
particularmente a música, estivessem a serviço daquele que as
concedeu e criou. Por isso eu peço que todo cristão de valor
receba isto de bom grado e ajude a promovê-lo, caso Deus lho
tenha concedido igualmente ou até mais.
No seu escrito Symphoniae iucundae, dirigido a Jorge Rhau, Lutero diz:
Eu certamente gostaria de exaltar a música de todo o meu coração
como o dom excelente de Deus que é e recomendá-la a todos...
E você, meu jovem amigo, deixe que esta nobre, salutar e alegre criação
de Deus seja recomendada a você ... Ao mesmo tempo você passa por
habituar-se a reconhecer e louvar o Criador.
Em seu “Tratado nas Últimas Palavras de Davi” (1543), Lutero observa
que esta “maravilhosa criação e dom de Deus” ajuda consideravelmente a
entender e proclamar o Messias, além do mero ler e falar.
O livro dos Salmos é uma doce e agradável canção porque ele
canta e proclama o Messias mesmo quando uma pessoa não canta
as notas mas meramente recita e pronuncia as palavras. Contudo a
música, ou as notas, que são uma maravilhosa criação e dom de
Deus, ajudam consideravelmente nisto, especialmente quando o povo
canta junto e participa reverentemente.
Nas suas “Conversas de Mesa” Lutero enfatiza a música como dom de
Deus que precisa ser ensinado à juventude em contraste como os fanáticos
que pensam diferentemente.
A música é um dom destacado de Deus o mais próximo da teologia.
Eu não gostaria de desistir do meu superficial conhecimento de
música nem por um grande motivo. E à juventude deveria ser
ensinada esta arte; pois ela faz pessoas excelentes e habilitadas.68
Não fico satisfeito com aquele que despreza a música, como todo
os fanáticos o fazem; a música é uma qualidade e dom de Deus,
não um dom dos homens ... Eu coloco a música após a teologia e
lhe dou o maior louvor.
O dom da música também estimulava Lutero à pregação: “A música é
maior dom de Deus. Tantas vezes ela tem-me estimulado e incitado que eu
senti o desejo de pregar”.
Lutero cita Pitágoras para enfatizar a música como dom de Deus, pois ela
estaria inserida na “harmonia das esferas” estabelecida dentro da criação em
si. “Não nos maravilhamos diante dos outros dons incontáveis da criação por
que ficamos surdos àquilo que Pitágoras com aptidão denomina esta
maravilhosa e mais amável música vinda da harmonia do movimento que
existe nas esferas celestes”. A razão humana não vê a criação divina, mas
os cristãos, através do Espírito, vêem tudo como beneficio de Deus. “A razão
vê o mundo como extremamente perverso e por isso ela murmura. O Espírito
nada vê senão os benéficos de Deus no mundo e por isso começa a cantar”.
Schalk concluiu: “Os resultados práticos de uma tal visão eram, para Lutero,
perfeitamente óbvios. Quando a música é vista primeiramente como dom de
Deus, ela é estabelecida como a mais próxima da teologia, e isto dá à igreja a
liberdade de usar toda a música sem medo”.Lutero complementa: “Quando
o ensino [musical] e música artística que corrige, desenvolve e refina a música
natural é acrescentado a tudo isso, então finalmente é possível experimentar
com admiração (ainda que não compreendendo) a visão absoluta e perfeita
de Deus em seu maravilhoso trabalho de música.
Podemos destacar que Lutero tem uma visão ampla sobre a música
adequada para a igreja. Desde o tempo do canto gregoriano até a reforma
desenvolveu-se uma música sofisticada da qual o povo não tinha condições
de participar. A tradição calvinista expurgou da igreja esta música sofisticada
e permitiu apenas o canto de salmos metrificados a capela. Lutero, no entanto,
procurou deixar uma forma diversificada de música. O canto congregacional
era para o povo participar; e o canto polifônico para o povo ouvir.
Em 1538 Lutero escreveu o “Prefácio a Todos os Bons Hinários” para
o texto de João Walter “Louvor e Exaltação da Louvável Arte da Música”.
Este texto também foi publicado no hinário de Klug, em 1543. É um louvor
à “Dona Música”, onde Lutero exprime seu apreço à música, fundamentado
na doutrina da justificação. Eis o texto:
Dona Música.
Dentre todos os prazeres sobre a terra
não há maior que seja dada a alguém
do que aquela que eu proporciono com meu canto
e com certas doces sonoridades.
Não pode haver má intenção
onde houver companheiros cantando bem,
ali não fica zanga, briga, ódio nem inveja,
toda mágoa tem que ceder,
mesquinhez, preocupação e o que mais atribular
se vai com todas as tristezas.
Além disso, cada qual tem o direito
desse prazer não ser pecado,
mas, ao invés, agrada a Deus muito mais
do que todos os prazeres do mundo inteiro.
Ela destrói a obra do diabo
e impede que muitos malvados matem.
Isto demonstra o ato do rei Davi
que muitas vezes, com doce toque da harpa,
impediu que Saul praticasse grande matança.
Para a palavra e verdade divina
ela silencia e prepara o coração.
Isto Eliseu declarou,
ao encontrar o espírito pela execução da harpa.
A melhor época do ano é para mim
quando cantam todos os passarinhos,
enchendo os céus e a terra
com canto agradável e abundante.
Puxa a frente o rouxinol querido
alegrando tudo em toda parte
com seu canto maravilhoso;
por isso, devemos ser-lhe sempre agradecidos
mais ainda ao amado Deus Senhor
que assim a criou
de modo a ser uma grande cantora
maestrina da música.
Para ele ela canta e dança noite e dia;
ela por nada se cansa do seu louvor,
e ele glorifica e louva também o meu canto
e lhe expressa um agradecimento eterno.75
Schalk conclui:
Ao enfatizar a música como criação de Deus, não do povo, e como dom
de Deus ao povo para usar em seu louvor e adoração, Lutero fixou o
palco para a liberdade dos compositores, congregações, coros e
instrumentistas desenvolveram seus talentos e habilidades ao mais alto
grau possível. A música que se desenvolveu na tradição luterana é um
eloqüente testemunho de que a igreja, junto com seus músicos, achou o
paradigma de Lutero, da música como criação e dom de Deus, ser um
elemento construtivo preeminente no desenvolvimento de uma rica cultura
musical na qual se possa viver, trabalhar, tocar música e louvar seu Deus.