O BEM SUPERIOR OU ACIMA DE NÓS
Nada falo dos bens eternos e celestes que os beatos fruem na clara visão de Deus; ou então só falo deles na fé e na medida em que podemos compreendê-los. Assim esta sétima imagem é Jesus Cristo, o rei da glória, ressurgindo dos mortos, da mesma forma que, como sofredor, moribundo e sepultado, ele também foi a sétima imagem dos males. Aqui se podem ver a máxima alegria de nosso coração e os bens estáveis; absolutamente nada mais de males, pois Cristo, que ressurge dos mortos, já não morre, a morte já não dominará sobre Ele. Aqui está a fornalha da caridade e o fogo de Deus em Sião, como diz Isaías. Pois Cristo nos nasceu, e não só isso, também nos é dado. Por isso sua ressurreição é a minha, e tudo que Ele operou por sua ressurreição é meu. E, como o apóstolo se gloria de modo exuberantíssimo em Rm 8.32: “Como não nos dará com Ele todas as coisas”? “Que, porém, operou Ele, ressurgindo”? Destruiu o pecado, suscitou a justiça, aniquilou a morte e devolveu a vida, venceu o inferno e conferiu a glória sempiterna. Estes são bens inestimáveis, de sorte que a mente humana só com dificuldade ousa crer que lhe sejam dados, como Jacó (GN 45.26ss.) que, ao ouvir que seu filho José reinava no Egito, como que acordando de pesado sono, não lhes acreditou, até que, tendo eles repetido tudo, mostraram também os carros enviados por José. Assim também, de fato, é difícil crer que em Cristo foram conferidos tantos bens a nós indignos, se Ele não se tivesse manifestado aos discípulos com muitas palavras e aparições, para assim, como que por carros, pela repetição e pela experiência, ensinar por fim a nós crer desta forma. Na verdade, Ele é o carro mais agradável, que nos foi feito por Deus justiça, santificação, redenção, sabedoria, como diz o apóstolo em 1 Co 1.30. Eu sou pecador, mas ando em sua justiça que me foi dada. Sou imundo, mas minha santificação é sua santidade na qual ando de modo agradável. Eu sou estulto, mas sua sabedoria me conduz. Sou condenável, mas usa liberdade é minha redenção, um carro seguríssimo. Assim sendo, o cristão (desde que creia nisto) não pode gloriar-se de outra forma dos méritos de Cristo e de todos os seus bens do que como se ele próprio os tivesse feito. E são seus próprios a tal ponto que já ousa esperar em segurança o juízo de Deus, que, de outro modo, é insuportável. Tão grande coisa é a fé, tão grandes bens nos obtém, tão gloriosos filhos de Deus constitui. Pois não podemos ser filhos se não herdarmos os bens paternos. Por isso o cristão pode dizer em confiança: “Onde está, ó morte, tua vitória? Onde está, ó morte, teu aguilhão” isto é, o pecado”? “Pois o aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a lei. Graças a Deus, porém, que nos deu a vitória por meio de Jesus Cristo, nosso Senhor”! (1 Co 15.55) Isto é, a lei nos torna pecadores, o pecado nos torna réus de morte. Qual dos dois vence? Nossa justiça? Nossa vida? Não! Mas Jesus Cristo que ressurge da morte, condena o pecado e a morte, compartilha-nos sua justiça, dá-nos seus méritos, põe sua mão sobre nós, e por isso vamos bem, cumprimos a lei e superamos o pecado e a morte. Por isso a honra, o louvor e a ação de graças sejam a Deus pelos séculos dos séculos, amém.
Este é, portanto, o espetáculo supremo, no qual somos elevados não só acima de nossos males, mas também acima de nossos bens, e já estamos assentados em bens alheios, conseguidos com esforço alheio, nós que antes jazíamos nos males conquistados por pecado alheio a aumentados por nosso próprio. Assentamo-nos, digo, na justiça de Cristo, pela qual Ele próprio é justo, porque a ela nos prendemos, pela qual Ele próprio agrada a Deus, intercede por nós como mediador e, como melhor sacerdote e patrono, se faz inteiramente nosso. Como é impossível que Cristo não agrade em sua justiça, assim também é impossível que nos não agrademos por nossa fé, pela qual nos agarramos à justiça dEle. Essas coisa fazem com que o cristão seja onipotente, senhor de tudo, tendo tudo, fazendo tudo, totalmente sem qualquer pecado. E ainda que esteja em pecados, eles necessariamente não prejudicarão, mas são perdoados por causa da justiça de Cristo, que é insuperável e exaure todos os pecados. É nela que se apoia nossa fé, crendo com firmeza que para nós Cristo é tal qual dissemos. Quem não crê nisto ouve, surdo que é, uma fábula, e não reconhece a Cristo, não entende para que ele seja útil e qual o proveito dele.
Por isso esta única imagem, se outras não houvesse, nos pode imbuir de tanta consolação, se considerada bem e de coração atento, que não só não padecemos com nossos males, mas inclusive nos gloriamos nas tribulações, por causa da alegria que temos em Cristo, quase não as sentindo. Que com esta glória nos ensine o próprio Cristo, Senhor e Deus nosso, bendito pelos séculos dos séculos, amém.
OBRAS SELECIONADAS DE LUTERO VOLUME 2 TÁBUA 2 CAPÍTULO 7 PG 45-47 “O PROGRAMA DA REFORMA”
Nada falo dos bens eternos e celestes que os beatos fruem na clara visão de Deus; ou então só falo deles na fé e na medida em que podemos compreendê-los. Assim esta sétima imagem é Jesus Cristo, o rei da glória, ressurgindo dos mortos, da mesma forma que, como sofredor, moribundo e sepultado, ele também foi a sétima imagem dos males. Aqui se podem ver a máxima alegria de nosso coração e os bens estáveis; absolutamente nada mais de males, pois Cristo, que ressurge dos mortos, já não morre, a morte já não dominará sobre Ele. Aqui está a fornalha da caridade e o fogo de Deus em Sião, como diz Isaías. Pois Cristo nos nasceu, e não só isso, também nos é dado. Por isso sua ressurreição é a minha, e tudo que Ele operou por sua ressurreição é meu. E, como o apóstolo se gloria de modo exuberantíssimo em Rm 8.32: “Como não nos dará com Ele todas as coisas”? “Que, porém, operou Ele, ressurgindo”? Destruiu o pecado, suscitou a justiça, aniquilou a morte e devolveu a vida, venceu o inferno e conferiu a glória sempiterna. Estes são bens inestimáveis, de sorte que a mente humana só com dificuldade ousa crer que lhe sejam dados, como Jacó (GN 45.26ss.) que, ao ouvir que seu filho José reinava no Egito, como que acordando de pesado sono, não lhes acreditou, até que, tendo eles repetido tudo, mostraram também os carros enviados por José. Assim também, de fato, é difícil crer que em Cristo foram conferidos tantos bens a nós indignos, se Ele não se tivesse manifestado aos discípulos com muitas palavras e aparições, para assim, como que por carros, pela repetição e pela experiência, ensinar por fim a nós crer desta forma. Na verdade, Ele é o carro mais agradável, que nos foi feito por Deus justiça, santificação, redenção, sabedoria, como diz o apóstolo em 1 Co 1.30. Eu sou pecador, mas ando em sua justiça que me foi dada. Sou imundo, mas minha santificação é sua santidade na qual ando de modo agradável. Eu sou estulto, mas sua sabedoria me conduz. Sou condenável, mas usa liberdade é minha redenção, um carro seguríssimo. Assim sendo, o cristão (desde que creia nisto) não pode gloriar-se de outra forma dos méritos de Cristo e de todos os seus bens do que como se ele próprio os tivesse feito. E são seus próprios a tal ponto que já ousa esperar em segurança o juízo de Deus, que, de outro modo, é insuportável. Tão grande coisa é a fé, tão grandes bens nos obtém, tão gloriosos filhos de Deus constitui. Pois não podemos ser filhos se não herdarmos os bens paternos. Por isso o cristão pode dizer em confiança: “Onde está, ó morte, tua vitória? Onde está, ó morte, teu aguilhão” isto é, o pecado”? “Pois o aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a lei. Graças a Deus, porém, que nos deu a vitória por meio de Jesus Cristo, nosso Senhor”! (1 Co 15.55) Isto é, a lei nos torna pecadores, o pecado nos torna réus de morte. Qual dos dois vence? Nossa justiça? Nossa vida? Não! Mas Jesus Cristo que ressurge da morte, condena o pecado e a morte, compartilha-nos sua justiça, dá-nos seus méritos, põe sua mão sobre nós, e por isso vamos bem, cumprimos a lei e superamos o pecado e a morte. Por isso a honra, o louvor e a ação de graças sejam a Deus pelos séculos dos séculos, amém.
Este é, portanto, o espetáculo supremo, no qual somos elevados não só acima de nossos males, mas também acima de nossos bens, e já estamos assentados em bens alheios, conseguidos com esforço alheio, nós que antes jazíamos nos males conquistados por pecado alheio a aumentados por nosso próprio. Assentamo-nos, digo, na justiça de Cristo, pela qual Ele próprio é justo, porque a ela nos prendemos, pela qual Ele próprio agrada a Deus, intercede por nós como mediador e, como melhor sacerdote e patrono, se faz inteiramente nosso. Como é impossível que Cristo não agrade em sua justiça, assim também é impossível que nos não agrademos por nossa fé, pela qual nos agarramos à justiça dEle. Essas coisa fazem com que o cristão seja onipotente, senhor de tudo, tendo tudo, fazendo tudo, totalmente sem qualquer pecado. E ainda que esteja em pecados, eles necessariamente não prejudicarão, mas são perdoados por causa da justiça de Cristo, que é insuperável e exaure todos os pecados. É nela que se apoia nossa fé, crendo com firmeza que para nós Cristo é tal qual dissemos. Quem não crê nisto ouve, surdo que é, uma fábula, e não reconhece a Cristo, não entende para que ele seja útil e qual o proveito dele.
Por isso esta única imagem, se outras não houvesse, nos pode imbuir de tanta consolação, se considerada bem e de coração atento, que não só não padecemos com nossos males, mas inclusive nos gloriamos nas tribulações, por causa da alegria que temos em Cristo, quase não as sentindo. Que com esta glória nos ensine o próprio Cristo, Senhor e Deus nosso, bendito pelos séculos dos séculos, amém.
OBRAS SELECIONADAS DE LUTERO VOLUME 2 TÁBUA 2 CAPÍTULO 7 PG 45-47 “O PROGRAMA DA REFORMA”