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O SACRIFÍCIO DE CRISTO, ALÍVIO PERMANENTE

8/31/2014

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O SACRIFÍCIO DE CRISTO, ALÍVIO PERMANENTE.

Hebreus contrasta as alianças de Deus através de Moisés e de Cristo. A aliança mosaica realizava sacrifícios com animais que traziam alívio temporário à culpa do homem e demonstravam as lições da justiça de Deus. A aliança através de Moisés fornecia uma ligação pelo sangue dos animais. Esses sacrifícios, entretanto, tinham de ser repetidos anualmente no tabernáculo, que era apenas um símbolo para o altar eterno e celeste de Deus. Entretanto, Jesus Cristo entrou na história como um sacerdote eterno para oferecer um sacrifício eterno pelo pecado. O derramamento do seu sangue forneceu um sacrifício permanente e uma ligação permanente entre Deus e o homem. Seu sangue não foi meramente aplicado a um altar terreno, mas ao próprio altar de Deus no céu, onde, de uma vez por todas, obteve redenção dos pecados a todos que o recebem. A ligação imutável que é estabelecida através da nova aliança no sangue de Cristo é o cumprimento definitivo da natureza divina de fazer aliança com seu povo.

PR. AFONSO

 

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INTRODUÇÃO AO DEBATE SOBRE A TEOLOGIA ESCOLÁSTICA

8/30/2014

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INTRODUÇÃO AO DEBATE SOBRE A TEOLOGIA ESCOLÁSTICA

A teologia medieval ou escolástica baseava-se amplamente no pensamento de Aristóteles (384-322 a. C.),  um dos mais importantes filósofos da antiga Grécia. Era comum dizer-se que a filosofia em geral é a serva da teologia e que,  sem Aristóteles, ninguém pode ser teólogo. Formaram-se as correntes ou “escolas” dos tomistas, seguidores do dominicano italiano Tomás de Aquino (1225-1274), dos escotistas, seguidores do franciscano escocês João Duns Escoto (aproximadamente 1270-1308), e dos occamistas,  seguidores do franciscano inglês Guilherme de Occam (aproximadamente 1285-1349), sendo esta última corrente também chamada de “via moderna”.

Na Universidade de Erfurt, Lutero foi educado segundo os padrões filosóficos do occamismo. Cedo, porém, começou a ficar insatisfeito com a maneira escolástica de fazer teologia. Como professor de interpretação da Bíblia, desde 1512, na recém-fundada (1502) Universidade de Wittenberg, aprofundou-se no estudo da Sagrada Escritura. Em busca de alternativas, encontrou importante ajuda nos escritos de Agostinho (354-430), bispo de Hipona, na África do Norte, um dos maiores pensadores de toda a história da teologia cristã. Agostinho era patrono da Universidade Wittenberg, e seu pensamento foi de grande importância para a Ordem dos Agostinianos Eremitas, à qual Lutero pertenceu. A partir de critérios tomados da Bíblia e de Agostinho, Lutero percebeu que a Teologia estava acorrentada no cativeiro da escolástica, impossibilitada de articular adequadamente a questão essencial da fé cristã, ou seja, graça e justificação, Deus em seu relacionamento com o ser humano e vice-versa. As verdades da fé não podem ser compreendidas em toda a sua profundidade mediante a aplicação das regras da lógica filosófica. A teologia precisava ser libertada, sobretudo da ditadura de Aristóteles, a quem, certa vez, Lutero caracterizou como “esse palhaço que, com sua máscara grega, tanto enganou a Igreja”. O método teológico alternativo era o do paradoxo: afirmações que a lógica tradicional considerava paradoxais passaram a ser usadas para expressar adequadamente as verdades cristãs.

Lutero tornou-se o mentor espiritual da nova maneira de fazer teologia. Convenceu seus colegas da Faculdade de Teologia da necessidade de substituir as matérias tradicionais por outras, mais adequadas para conduzir os alunos ao centro da fé cristã. Em maio de 1517, escreveu a seu amigo João Lang, em Erfurt, que “nossa teologia e Agostinho progridem bem, com a ajuda de Deus, e predominam em nossa universidade. Aristóteles decai pouco a pouco e está sendo arruinado”.

 Na universidade havia regularmente debates públicos sobre séries de teses formuladas especialmente para essa finalidade. Quem pretendia adquirir qualquer grau acadêmico precisava demonstrar sua capacidade intelectual participando de tal debate. Como as teses não se destinavam à publicação, proporcionavam a oportunidade de apresentar ideias novas sem o risco de uma intervenção imediata das autoridades eclesiásticas. Para o debate de seu discípulo Francisco Günther, pretendente ao título de bacharel em Estudos Bíblicos. Lutero resumiu, em 97 teses claras e radicais, sua crítica a todo o sistema da teologia escolástica. As teses, redigidas entre 21 de Agosto e 4 de Setembro de 1517, dirigem-se sobretudo contra Gabriel Biel e sua concepção da capacidade natural do ser humano (teses 5 a 36), bem como contra a concepção de justiça de Aristóteles e o papel do mesmo na teologia (teses 37 a 53), tratando também da relação existente entre graça, obediência, livre arbítrio e amor (teses 54 a 97). O debate realizou-se em 4 de Setembro de 1517. Sobre seu conteúdo nada sabemos, mas o título de bacharel em Estudos Bíblicos foi conferido a Francisco Günther por unanimidade.

Lutero mandou as teses para Erfurt e Nürnberg. Estava ansioso para conhecer a reação de outros. Chegou a se prontificar a ir pessoalmente a Erfurt para defender publicamente seu ataque aos fundamentos da escolástica. Seus ex-professores, no entanto, não lhe responderam diretamente. Como soube mais tarde, haviam comentado que Lutero era arrogante e condenava precipitadamente os que divergiam de sua teologia. Entre os jovens, porém, as críticas de Lutero foram recebidas como um ato de libertação das verdades bíblicas de seu cativeiro aristotélico-eclesiástico. Na evolução de Lutero, as teses representam a fase da crítica. São o mais importante testemunho escrito de seu rompimento com a escolástica e, assim, com seu próprio passado teológico. Ainda não apresentam o programa de uma teologia alternativa. Entretanto, com as teses, Lutero removeu definitivamente os obstáculos no caminho em direção a uma teologia autêntica, que chega ao “interior da noz” e à “medula dos ossos”. Seu amigo Cristóvão Sheurl, de Nürnberg, respondeu-lhe, acertadamente, em 4 de Novembro daquele ano, após ter recebido as teses: “Restaurar a Teologia de Cristo”!

É provável que as teses tenham sido originalmente impressas em forma de cartaz para poderem ser afixadas em Wittenberg, nos lugares destinados a este fim. Não se conhece nenhum exemplar do original. Só nas reedições as teses estão numeradas; contam-se entre 97 e 100 teses. Os editores modernos preferem contar 97 teses.

Joachim Fischer

OBRAS SELECIONADAS DE LUITERO VOLUME 1 PÁGINA 13-14 “OS PRIMÓRDIOS”    

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A VIRTUDE DA HUMILDADE

8/29/2014

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A VIRTUDE DA HUMILDADE Sei de que forças tenho necessidade para demonstrar aos soberbos quão poderosa é a virtude da humildade, pois que, para lá de todas as grandezas passageiras e efêmeras da Terra, ela atinge uma altura que não é uma usurpação do orgulho humano, mas um dom da graça divina. De fato, o Rei e Fundador desta cidade, de que resolvemos falar, revelou nas Escrituras de seu povo o dito da lei divina: Deus resiste aos soberbos e dá graça aos humildes. Mas deste privilégio exclusivo de Deus, a alma intumescida de orgulho tenta apropriar-se dele e gosta de ouvir dizer em seu louvor: Poupar os vencidos e domar os soberbos.

 

AGOSTINHO DE HIPONA “CIDADE DE DEUS” VOLUME 1 PÁGINA 98

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O BEM SUPERIOR OU ACIMA DE NÓS

8/28/2014

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O BEM SUPERIOR OU ACIMA DE NÓS

Nada falo dos bens eternos e celestes que os beatos fruem na clara visão de Deus; ou então só falo deles na fé e na medida em que podemos compreendê-los. Assim esta sétima imagem é Jesus Cristo, o rei da glória, ressurgindo dos mortos, da mesma forma que, como sofredor, moribundo e sepultado, ele também foi a sétima imagem dos males. Aqui se podem ver a máxima alegria de nosso coração e os bens estáveis; absolutamente nada mais de males, pois Cristo, que ressurge dos mortos, já não morre, a morte já não dominará sobre Ele. Aqui está a fornalha da caridade e o fogo de Deus em Sião, como diz Isaías. Pois Cristo nos nasceu, e não só isso, também nos é dado. Por isso sua ressurreição é a minha, e tudo que Ele operou por sua ressurreição é meu. E, como o apóstolo se gloria de modo exuberantíssimo em Rm 8.32: “Como não nos dará com Ele todas as coisas”? “Que, porém, operou Ele, ressurgindo”? Destruiu o pecado, suscitou a justiça, aniquilou a morte e devolveu a vida, venceu o inferno e conferiu a glória sempiterna. Estes são bens inestimáveis, de sorte que a mente humana só com dificuldade ousa crer que lhe sejam dados, como Jacó (GN 45.26ss.) que, ao ouvir que seu filho José reinava no Egito, como que acordando de pesado sono, não lhes acreditou, até que, tendo eles repetido tudo, mostraram também os carros enviados por José. Assim também, de fato, é difícil crer que em Cristo foram conferidos tantos bens a nós indignos, se Ele não se tivesse manifestado aos discípulos com muitas palavras e aparições, para assim, como que por carros, pela repetição e pela experiência, ensinar por fim a nós crer desta forma. Na verdade, Ele é o carro mais agradável, que nos foi feito por Deus justiça, santificação, redenção, sabedoria, como diz o apóstolo em 1 Co 1.30. Eu sou pecador, mas ando em sua justiça que me foi dada. Sou imundo, mas minha santificação é sua santidade na qual ando de modo agradável. Eu sou estulto, mas sua sabedoria me conduz. Sou condenável, mas usa liberdade é minha redenção, um carro seguríssimo. Assim sendo, o cristão (desde que creia nisto) não pode gloriar-se de outra forma dos méritos de Cristo e de todos os seus bens do que como se ele próprio os tivesse feito. E são seus próprios a tal ponto que já ousa esperar em segurança o juízo de Deus, que, de outro modo, é insuportável. Tão grande coisa é a fé, tão grandes bens nos obtém, tão gloriosos filhos de Deus constitui. Pois não podemos ser filhos se não herdarmos os bens paternos. Por isso o cristão pode dizer em confiança: “Onde está, ó morte, tua vitória? Onde está, ó morte, teu aguilhão” isto é, o pecado”? “Pois o aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a lei. Graças a Deus, porém, que nos deu a vitória por meio de Jesus Cristo, nosso Senhor”! (1 Co 15.55) Isto é, a lei nos torna pecadores, o pecado nos torna réus de morte. Qual dos dois vence? Nossa justiça? Nossa vida? Não! Mas Jesus Cristo que ressurge da morte, condena o pecado e a morte, compartilha-nos sua justiça, dá-nos seus méritos, põe sua mão sobre nós, e por isso vamos bem, cumprimos a lei e superamos o pecado e a morte. Por isso a honra, o louvor e a ação de graças sejam  a Deus pelos séculos dos séculos, amém.

Este é, portanto, o espetáculo supremo, no qual somos elevados não só acima de nossos males, mas também acima de nossos bens, e já estamos assentados em bens alheios, conseguidos com esforço alheio, nós que antes jazíamos nos males conquistados por pecado alheio a aumentados por nosso próprio. Assentamo-nos, digo, na justiça de Cristo, pela qual Ele próprio é justo, porque a ela nos prendemos, pela qual Ele próprio agrada a Deus, intercede por nós como mediador e, como melhor sacerdote e patrono, se faz inteiramente nosso. Como é impossível que Cristo não agrade em sua justiça, assim também é impossível que nos não agrademos por nossa fé, pela qual nos agarramos à justiça dEle. Essas coisa fazem com que o cristão seja onipotente, senhor de tudo, tendo tudo, fazendo tudo, totalmente sem qualquer pecado. E ainda que esteja em pecados, eles necessariamente não prejudicarão, mas são perdoados por causa da justiça de Cristo, que é insuperável e exaure todos os pecados. É nela que se apoia nossa fé, crendo com firmeza que para nós Cristo é tal qual dissemos. Quem não crê nisto ouve, surdo que é, uma fábula, e não reconhece a Cristo, não entende para que ele seja útil e qual o proveito dele.

Por isso esta única imagem, se outras não houvesse, nos pode imbuir de tanta consolação, se considerada bem e de coração atento, que não só não padecemos com nossos males, mas inclusive nos gloriamos nas tribulações, por causa da alegria que temos em Cristo, quase não as sentindo. Que com esta glória nos ensine o próprio Cristo, Senhor e Deus nosso, bendito pelos séculos dos séculos, amém.

OBRAS SELECIONADAS DE LUTERO VOLUME 2 TÁBUA 2 CAPÍTULO 7 PG 45-47 “O PROGRAMA DA REFORMA”

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O BEM DIREITO OU À DIREITA

8/27/2014

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O BEM DIREITO OU À DIREITA

Esta é a igreja dos santos, a nova criatura de Deus, nossos irmãos e amigos, nos quais nada vemos senão o bem, nada senão consolação , ainda que nem sempre com os olhos carnais (pois isto eles são na imagem contrária dos males), mas com olhos espirituais. Todavia, também estes seus bens que são vistos não devem ser rejeitados, para que compreendamos que neles somos consolados por Deus. Pois também Sl 73.15 não ousou condenar a todos que conseguiram riquezas no mundo, dizendo: “Se eu falasse assim, eis que reprovaria a nação de teus filhos”. Isto é, se eu quisesse dizer que são maus todos os ricos, sadios e honrados, também teria condenado teus santos, dos quais há muitos entre eles. Mas também o apóstolo ensina a Timóteo que ordene aos ricos deste século que não sejam soberbos, não proibindo com isso que sejam ricos. A Escritura relata que Abraão, Isaque e Jacó foram ricos. E também Daniel com seus companheiros foram homens honrados na Babilônia. Além disso, muitos reis em Judá foram santos. Tendo em vista a estes, diz o Salmo: “ Se eu falasse assim, reprovaria a nação de teus filhos”. Eu digo: Deus dá também aos seus abundância desses bens para consolação deles e de outros. Estes, porém, não são seus bens verdadeiros, e sim sombra e sinais dos verdadeiros bens, que são: A fé, a esperança, a caridade, e outras graças e dons que todos se tornam comuns pela caridade.

Esta é a comunhão dos santos na qual nos gloriamos. E quem se orgulharia disso, também nos maiores males, quando crê aquilo que de fato é, a saber, que os bens de todos os santos são seus bens, e que seu mal é também o deles? Pois esta imagem é a mais doce e agradável e o apóstolo a pinta aos gálatas com a seguinte palavra: “Carregai as cargas um do outro, e assim cumprireis a lei de Cristo”. (Gl 6.2) Acaso não é bom nós estarmos aqui onde, se um membro sofre (segundo 1 Co 6), todos os membros também sofrem, e se um é glorificado, todos os membros se alegram com ele? Por isso, quando sofro eu, já não sofro sozinho; sofrem comigo Cristo e todos os cristãos, conforme diz: “Quem vos toca a vós, toca na pupila do meu olho”. (Zc 2.8) Assim outros carregam  meu fardo, a força deles é a minha. A fé de minha igreja socorre-me na perturbação, a castidade dos outros suporta a tentação de minha libido, os jejuns dos outros são meus lucros, a oração alheia preocupa-se comigo, em suma, os membros se preocupam uns pelos outros de tal modo que os mais honestos protegem também os desonestos, lhes servem, os honram, conforme 1 Co 6 descreve com beleza. E assim posso de fato gloriar-me nos bens dos outros como meus próprios, e de fato são também meus se sou grato e me alegro com eles. Que eu seja torpe e repugnante; os outros, porém, aos quais amo, aos quais aplaudo, são formosos e belos. Por esse amor torno meus não apenas seus bens, mas eles próprios. Razão por que, sob a glória deles, minha ignomínia é facilmente honrada, por sua abundância minha carência é complementada, por seus méritos meus pecados são curados. Quem, pois, quer ainda desesperar nos pecados? Quem não se alegrará nas penas, porque já não carrega seus pecados e penas, ou, se os carrega, não os carrega sozinho, tendo a ajuda de tantos santos filhos de Deus, afinal, do próprio Cristo? Tão grande coisa é a comunhão dos santos e a Igreja de Cristo.

Se, porém, alguém não crê que isso acontece ou se realiza, este mesmo é incrédulo, negou a Cristo e à Igreja. E ainda que isso não seja sentido, é isso mesmo que acontece. Sim, quem não o sentiria? Pois quem é a causa do fato de não desesperares, de não te tornares impaciente? Tua força? De modo algum, mas a comunhão dos santos. Do contrário sequer suportarias um pecado venial, nem uma palavra de alguém pronunciada contra ti. Tão próximo estão de Cristo e a Igreja. É isto que expressamos com as palavras: “Creio no Espírito Santo, uma santa igreja católica (católica tem aqui o sentido de igreja universal dos eleitos, e não a do catolicismo romano*)”. Que outra coisa é crer na santa Igreja do que crer na comunhão dos santos? Em que comungam os santos? Certamente nas coisas boas e nas más. Todas as coisas são de todos, como a figura do Sacramento do Altar no pão e no vinho, onde o apóstolo nos chama de um só corpo, um só pão, uma só bebida. Pois quem ofende uma pequena parte do corpo na qual não ofende o corpo todo? Que sofre o dedo mindinho do pé que não sofre o corpo todo? Qual benefício se confere aos pés no qual não se alegra o corpo todo? Nós, porém, somos um só corpo. Qualquer coisa boa que alguém outro sofre, sofro eu e o carrego; qualquer coisa boa que se lhe faz, acontece a mim. Assim diz Cristo que foi feito a Ele o que tiver sido feito a seus mais pequeninos. Quem recebe do pão do altar a menor partícula que seja, não diz que recebe o pão? Não dizemos que despreza o pão quem despreza uma partícula dele?

Por isso, se padecemos, sofremos, morremos, volte-se para cá o olhar, e creiamos com firmeza e estejamos certos de que não somos nós, ou não nós sozinhos, mas são Cristo e a Igreja que padecem, sofrem, morrem conosco. Tanto quis Cristo que nosso caminho da morte não fosse solitário, caminho que causa horror a toda pessoa; andamos a via da paixão e morte na companhia de toda a Igreja, e a Igreja suporta de modo mais valoroso do que nós mesmos, de sorte que podemos, de fato, referir a nós que Elizeu diz em 2 Rs 6.16ss. a seu servo tímido: “ Não temas, pois conosco estão mais homens do que com eles. E, orando, disse Eliseu: Senhor, abre os olhos desse moço, para que veja. E o Senhor abriu os olhos do moço, e ele viu. E eis que o monte ficou cheio de cavalos e carros ígneos em redor de Elizeu”. Também a nós resta só isto: que oremos que nos sejam abertos os olhos e vejamos a Igreja ao nosso redor, digo, com os olhos da fé. Então nada mais haverá que temer, como diz também Sl 125.2: “Os montes estão a seu redor, e o Senhor ao redor de seu povo desde agora e para sempre”, amém.

*Nota do redator

OBRAS SELECIONADAS DE LUTERO VOLUME 2 TÁBUA 2 CAPÍTULO 6 PG 43-45 “O PROGRAMA DA REFORMA”

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O BEM ESQUERDO OU À ESQUERDA

8/26/2014

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Os adversários aqui descritos vivos (quanto antes consideramos os que já estão condenados e se tornaram semelhantes aos demônios). É preciso encarar a estes com um sentimento diferente, e deve ser visto seu bem duplo. Em primeiro lugar, que eles têm abundância de bens temporais, de sorte que também os profetas quase são levados à inveja pelos bens deles, segundo Sl 73.2s.: “Meus pés quase resvalaram, quase meus passos se desordenaram, pois invejei os iníquos ao ver a paz dos pecadores”.  E mais adiante: “Eis que eles são pecadores e, tendo em abundância no mundo, obtiveram riquezas”(V.12)Jr 12.1: “Decerto és justo, Senhor, ainda que eu dispute, contigo. Assim  mesmo quero falar-te coisas justas; Por que prospera o caminho dos ímpios? Bem estão todos aqueles que prevaricam e agem iniquamente”.

Por que derrama Deus sobre eles tantos bens, gratuitamente, e os desperdiça, a não ser para nos consolar e mostrar quão bom Ele é para aqueles que são retos de coração, como diz o mesmo Sl 73? Aquele que é tão bom para com os maus, quanto mais será bom para com os bons! Apenas com a diferença de que não atormenta os maus com nenhum mal, enquanto tenta os bons com muitos males, para que reconheçam que Ele lhes é bom não apenas nos bens presentes, mas também nos bens ocultos e futuros, e para que digam com o mesmo Salmo: “Para mim é bom estar ligado a Deus, pôr no Senhor minha esperança” (Sl 73.28), como se dissesse: “Ainda que eu tenha que sofrer algo do que vejo livres aqueles, assim mesmo confio que Deus será muito melhor para mim do que para eles”. E assim os bens visíveis dos maus nos são um incentivo para esperar os bens invisíveis e para desprezar os males que sofremos, do mesmo modo como Cristo nos ordena, em Mt 6.26s., observar as aves do céu e os lírios do campo, dizendo: “Se, pois, Deus veste desta maneira o feno, que hoje existe e amanhã é lançado no forno, quanto mais a vós, de pequena fé”! Por isso, pela comparação dos bens que os maus têm em abundância com o mau que nós sofremos, é exercitada nossa fé e obtida a consolação em Deus (a única santa). Até este ponto todas as coisas têm que cooperar para o bem dos santos.

O outro bem, mais maravilhoso ainda, é que os males deles são bens para nós, pela providência de Deus por nós. Pois ainda que os pecados deles sejam escândalos para os mais fracos, para os mais fortes são exercícios da virtude e ocasião para a luta e maior mérito. “Pois beato é o homem que suporta a tentação, porque, uma vez provado, receberá a coroa da vida”. (Tg 1.12) E que tentação maior haveria do que aquela multidão de péssimos exemplos? Por causa disso, afinal, o mundo é chamado de um dos inimigos dos santos de Deus, porque, com suas seduções e obras ímpias, nos incita, provoca e alicia do caminho de Deus para seu caminho, como está escrito em Gn 6.2: “Os filhos de Deus viram que as filhas dos homens eram belas”, e se fizeram carne. E em Nm 25.1: “Os filhos de Israel caíram com as filhas dos moabitas”, de sorte que nos é salutar sermos sempre pressionados por algum incômodo, para que não ruamos ofendidos pelos escândalos do mundo e, enfraquecidos, pequemos. Assim Ló é recomendado por Pedro em 2 Pe 2.7 porque sofreu muitas coisas por causa dos péssimos exemplos dos sodomitas, de sorte que, por meio disso, cresceu em sua justiça. Portanto, é necessário que venham estes escândalos que nos realizam a luta e a vitória. Não obstante, “ai do mundo por causa dos escândalos”! (Mt 18.7) Se, pois, Deus nos consegue tantos bens nos pecados dos outros, quanto mais deve ser crido de todo o coração que ele há de operar nosso bem em nossos incômodos, ainda que o sentimento e a carne julguem outra coisa!

O mundo nos oferece não menos bens a partir do outro lado de seus males, que é a adversidade. Pois aos que não pode devorar com suas seduções nem incorporar a si com os escândalos, a estes tenta expelir com sofrimentos e expulsar com os males dos castigos, sempre, porém, intentando o engano pelo exemplo dos pecadores ou o flagelo pelo tormento dos castigos. Este, pois, é o monstro quimera, cuja cabeça é feminina e sedutora, tem a barriga leonina e truculenta, a cauda de serpente mortífera, porque o fim do mundo, tão voluptuoso quanto tirânico, é veneno e morte sempiterna. Assim, pois, como Deus nos faz descobrir nossos bens nos pecados do mundo, da mesma forma também as perseguições por parte dele não são inúteis e em vão, mas ordenadas para incrementação de nossos bens, para que sejam obrigadas a nos favorecer justamente com aquilo com que nos querem prejudicar, como o B. Agostinho diz a respeito das crianças assassinadas por Herodes: “Ele jamais poderia ter sido tão útil por meio de obséquios quanto foi útil pelo ódio”. E a B. Ágata foi par o cárcere gabando-se, como se fosse a um banquete, argumentando do seguinte modo: “Se não fizeres teus carrascos agarrar firmemente meu corpo, minha alma não pode entrar no paraíso com a palma, tal como o grão não é recolhido ao armazém se não for privado de sua casca e fortemente malhado no eirado”.

No entanto, que falamos aqui de coisas insignificantes, quando vemos que neste assunto concordam toda a Escritura, os escritos e ditos de todos os pais, os atos e obras de todos os santos? Para os crentes são mais úteis aqueles que mais os prejudicam, desde que sejam suportados corretamente. Como diz Pedro em 1 Pe 3.13: “Quem é que vos prejudicará se fordes zelosos do bem”? SL 89.23: “O inimigo nada conseguirá nele, e o filho da iniquidade não ousará causar-lhe dano”. Como, porém, não causará dano quando, inclusive, mata com frequência? Porque, prejudicando, é útil ao máximo. Assim vemos que em toda parte vivemos em meio de bens, se formos prudentes, e, ao mesmo tempo, no meio de males; a tal ponto todas as coisas são maravilhosamente ordenadas pelo magistério da bondade divina.

OBRAS SELECIONADAS DE LUTERO VOLUME 2 TÁBUA 2 CAPÍTULO 5 PG 41-43 “O PROGRAMA DA REFORMA”

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O BEM INFERIOR OU ABAIXO DE NÓS

8/25/2014

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Até aqui vimos bens que são nossos e estão dentro de nós mesmos. De agora em diante veremos aqueles que se encontram em outros e fora de nós. O primeiro deles está nos que estão abaixo de nós, ou seja, os mortos e condenados. Mas não é estranho que algum bem possa ser encontrado nos mortos e condenados? Todavia, o poder da bondade de Deus é tão grande em toda parte que nos dá a ver coisas boas inclusive nos piores males. Comparando aqueles primeiramente conosco, vemos nossas inestimáveis vantagens, como se pode deduzir com facilidade da imagem oposta dos males. Pois tão grandes como são os males da morte e do inferno que lá vemos neles, tão grandes são, sem dúvida, nossas vantagens, tanto maiores quanto maiores forem os males deles. Todas estas coisas não devem ser desprezadas levianamente, porque nos recomendam com veemência a magnificentíssima misericórdia de Deus. E se menosprezam estas coisas, há o perigo de sermos considerados ingratos, de sermos condenados juntamente com aqueles ou de sermos castigados de forma pior. Por isso, quanto mais os vemos sofrer e ulular, tanto mais devemos alegrar-nos sobre a bondade de Deus por nós, conforme Is 65.13ss.: “Eis que meus servos comerão, e vós passareis fome. Eis que meus servos beberão, e vós passareis sede. Eis que meus servos se alegrarão, e vós sereis envergonhados. Eis que meus servos hão de louvar exultando de coração, e vós clamareis de dor no coração, e de contrição do espírito ululareis, e deixareis vosso nome para juramento a meus eleitos”, etc. Por fim, como já disse, os exemplos dos que morrem mal e dos condenados (como também relata o B. Gregório no Diálogo) nos servem de advertência e para o bom êxito na aprendizagem, de modo que feliz é aquele a quem  perigos alheios tornam cauto. Este bem, na verdade, pouco comove, por ser vulgarmente conhecido, ainda que deva ser contado entre os bens máximos e se tenha mostrado de não pequena estima àqueles que têm o coração sensível, visto que a isto se refere grande parte de toda a Sagrada Escritura, a saber, sempre que ela ensina da ira, dos juízos, das ameaças de Deus. Essas doutrinas salutaríssimas nos confirmam de modo extremamente salutar os exemplos dos misérrimos, exemplos estes que são especialmente eficazes se formos levados para dentro dos sentimentos dos que padecem tais coisas, como e estivéssemos no lugar deles, em lugar de sua pessoa. Então nos comoverão e admoestarão ao louvor da bondade de Deus que nos preservou de tais coisas.

Também comparamos estes com o próprio Deus, para assim enxergarmos a justiça de Deus neles. Ainda que isso seja difícil, deve ser tentado mesmo assim. Pois visto que Deus é juiz justo, deve-se amar e louvar sua justiça, e assim alegrar-se em Deus também quando ele destrói os maus de forma miserável em corpo e alma, porque em tudo isso brilha sua suprema e inefável justiça. Por isso também o inferno não está menos cheio de Deus e do sumo bem supremo. Por esta razão, como sua misericórdia, assim também sua justiça ou juízo deve ser amado, louvado e glorificado ao máximo. Neste sentido diz Davi: “O justo se alegrará ao ver a vingança, lavará suas mãos no sangue do pecador”. (Sl 58.11) Por essa razão o Senhor proibiu a Samuel, em 1 Rs 16, chorar por Saul por mais tempo, dizendo: “Até quando chorarás por Saul, tendo-o eu rejeitado para que não reine sobre Israel”? Como se quisesse dizer: “Desagrada-te minha vontade a tal ponto que preferes a vontade do ser humano a mim”? Por fim, é esta a voz do louvor e da alegria através de todo o Saltério: O Senhor é juiz das viúvas e pai dos órfãos;  fará a vingança dos pobres e o juízo do carente; os inimigos serão confundidos, os ímpios destruídos, e muitas coisas semelhantes. Se porém, em misericórdia estulta, alguém quisesse compadecer-se dessa geração de sanguinários, que assassina os justos, inclusive o Filho de Deus, e da multidão de ímpios, seria considerado como alguém que se alegra com a iniquidade deles e aprova o que fizeram, digno de perecer da mesma forma como eles, cujos pecados não quer ver vingados, e haverá de ouvir o que está escrito em 2 Rs 19: “Amas os que te odeiam, e odeias os que te amam”. Pois assim disse Joabe a Davi, quando este chorava demais por Absalão, seu próprio homicida ímpio. Por isso devemos, nesta imagem, co-alegrar-nos com toda a piedade dos santos e com a justiça de Deus, que pune de modo justíssimo os perseguidores da piedade, para libertar deles seus eleitos. E assim vês luzir nos mortos e condenados não bens pequenos, mas os sumos bens, a saber, a vingança da injustiça feita a todos os santos e também a ti, se és justo como eles. Que admira, pois, se Deus, por teu mal presente, vinga teu inimigo, ou seja, o pecado de teu corpo? Sim, deves alegrar-te neste serviço da excelente justiça de Deus, que, mesmo que não o peças, mata e destrói deste modo teu pior inimigo, isto é, teu pecado dentro de ti mesmo. Se tiveres pena disso, serás considerado amigo do pecado e inimigo da justiça que opera em ti, do que deves precaver-te ao máximo, para que não se diga também a ti: “Amas os que te odeiam, e odeias os que te amam”. Assim, pois, como deves, com alegria, ser grato à justiça que luta ferozmente contra teu pecado, do mesmo modo deverias também ser grato a ela quando luta ferozmente contra os pecadores, os inimigos de todos e de Deus. Vês, portanto, que nos males extremos se descobrem os melhores bens, e que podemos alegrar-nos nos piores males, não por causa dos males em si, mas por causa da suma bondade da justiça a nos vingar.

OBRAS SELECIONADAS DE LUTERO VOLUME 2 TÁBUA 2 CAPÍTULO 4 PG 39-41 “O PROGRAMA DA REFORMA” 

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O BEM PASSADO OU ATRÁS DE NÓS

8/24/2014

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O BEM PASSADO OU ATRÁS DE NÓS

A consideração deste bem é fácil quando feita a partir de sua imagem contrária, o mal passado. Assim mesmo queremos ajudar ao que se empenha nesta consideração. Neste assunto é um exímio artista o B. Agostinho em suas Confissões, onde, de modo belíssimo, enumera os benefícios de Deus para consigo desde o ventre de sua mãe. O mesmo faz o insigne Salmo 139.1ss.: “Senhor, puseste-me à prova”, onde, entre outras coisas, admirado da providência de Deus em relação a si próprio, diz: “Entendeste meus pensamentos de longe, investigaste meu caminho e meu funículo”, como se quisesse dizer: “Tudo que jamais pensei, tudo que fiz, o que haverei de conseguir e possuir, vejo-o agora como não são alcançados por meus esforços, mas foram estabelecidos muito antes desses em teu cuidado por mim”. Por fim diz: “Previste todos os meus caminhos e não há discurso em minha língua”. Onde então? No teu poder.

Isso nós aprendemos de experiência própria. Pois se repensamos a nossa vida passada, não nos causa admiração que pensamos, desejamos, agimos e falamos desta ou daquela forma, como jamais o pudemos prever? Como teríamos agido de modo diferente se tivesse dependido do nosso livre arbítrio! Só agora entendemos e vemos o quanto o cuidado de Deus esteve presente, como foi constante sua solicitude por nós, de sorte que nada pudemos falar, nem desejar, nem pensar a não ser o que Ele concedesse, como diz Sb 7.16: “Em sua mão estão tanto nós quanto nossos discursos”, e Paulo: “ O que opera tudo em nós”. (1 Co 12.6) Por que então não nos envergonhamos, insensatos e duros de coração, que, tendo aprendido pela própria experiência, vemos quão solícito foi por nós o Senhor até esta hora e nos deu todos os bens? E ainda não somos capazes de entregar a ele este cuidado por nós no pequeno mal do presente, e fazemos de conta que ele nos tivesse esquecido ou pudesse esquecer-nos de alguma maneira? Não é isto o que diz Sl 40.17: “Eu sou carente e pobre, o Senhor, porém tem cuidado de mim”. O B. Agostinho diz sobre esta passagem: “Deixa cuidar de ti aquele que te fez; aquele que cuidou de ti antes que existisses, como não cuidará quando já és o que ele quis que fosses? Nós, porém, aceitamos dividir o reino de Deus. Atribuímos a ele o fato de nos ter criado, e até isso de modo apenas relutante ou morno; e a nós mesmos arrogamos o cuidado de nós, como se Deus nos tivesse feito e logo se tivesse retirado, abandonando-nos ao governo de nossas próprias mãos.

No entanto, se nossa sabedoria e planos nos impedem de ver este cuidado de Deus por nós, visto que talvez muitas coisas se realizam de acordo com nossos propósitos, voltemos de novo ao nosso intuito com Sl 139.15: “Não te estiveram ocultos meus ossos que fizeste em oculto (isto é, meus ossos no ventre materno tu os vias e formavas, quando eu ainda não existia, quando minha mãe ainda não sabia o que acontecia dentro dela) e minha substância nas profundezas da terra ( isto é, a figura ou forma de meu corpo no mais íntimo das vísceras de minha mãe também não te era oculta, pois tu a formavas)”. Que outra coisa quer ele com estas palavras do que mostrar-nos com esse exemplo ingente o quanto Deus sempre cuidou de nós sem nossa participação? Pois q  uem pode gloriar-se de ter cooperado quando estava se formando no útero? Quem colocou na mãe o cuidado de nos amamentar, acariciar, amar e exercer todos aqueles deveres maternos quando nós ainda não tínhamos tomado consciência de nossa vida? E por fim, saberíamos e nos lembraríamos disso se não, tendo visto que a outros acontecem as mesmas coisas, fôssemos levados a crer que também aconteceram conosco? Pois tanto quanto temos conhecimento, todas estas coisas nos foram dedicadas como que a adormecidos, sim, a mortos ou a ainda não nascidos.

Assim vemos como sem a nossa contribuição as misericórdias e consolações divinas nos sustêm. E ainda agora duvidamos e também desesperamos se até hoje ele ainda tem cuidado de nós. E se alguém ao qual esta experiência não ensina nem comove, não sei o que poderia ensinar e comover. Pois nós a vemos exposta, a cada passo, de forma muito presente, em todas as crianças pequenas, de sorte que tantos exemplos propostos a nossa ignorância e dureza nos deveriam levar, com razão, a uma grande vergonha, se duvidamos que nos pudesse acontecer o menor bem ou mal sem o especial cuidado de Deus. Assim diz o B. Pedro em 1 Pe 5.7: “Lançando sobre ele toda a solicitude, porque ele tem cuidado de vós”. E Sl 37.5: “Lança sobre o Senhor teu cuidado, e ele te alimentará”. E o B. Agostinho diz a sua alma nas Confissões: “Por que te apoias em ti mesma, e não permaneces em pé? Lança-te sobre ele; ele não subtrairá sua mão, para que caias”. E novamente lemos em 1 Pe 4.19: “ Por isso também aqueles que sofrem segundo a vontade de Deus encomendem suas almas ao fiel Criador em boas obras”.

Oh, se alguém reconhecesse seu Deus por esta razão! Como viveria seguro, aquietado, alegre! Esse de fato teria um Deus, sabendo com certeza que todas as coisas que lhe dizem respeito, quaisquer que sejam, lhe acontecem e acontecerão apenas por disposição de sua mais amável vontade. Permanece firme a frase de Pedro: “Ele tem cuidado de vós”. Que coisa mais agradável podemos ouvir do que esta palavra? “Por isso”, diz ele, “lançai sobre ele toda a solicitude”. Pois se o não fazemos e tomamos o cuidado de nós em nossas próprias mãos, que outra coisa fazemos do que esforçar-nos para impedir o cuidado de Deus e, ao mesmo tempo, tornamos o tempo de nossa vida triste, laborioso, ansioso por muitos temores, cuidados e inquietações? E tudo isso em vão! Pois com isso nada de salutar promovemos, mas, como diz Eclesiastes: “Esta é a vaidade das vaidades e a aflição de espírito”. (1.2,14) Pois todo o livrinho fala desta experiência: Como tentou muitas coisas para si, e em todas nada encontrou senão trabalho, vaidade e aflição do espírito, de sorte que conclui ser um presente de Deus quando alguém tem o que comer e beber e se alegra com sua mulher, isto é, quando vive sem preocupações, tendo o cuidado por si recomendado a Deus. Por isso também nós não devemos ter outra preocupação por nós do que não nos preocuparmos conosco mesmos e não tirarmos de Deus o cuidado por nós. O restante cada qual deduzirá para si com facilidade da imagem contrária (como já disse) e da recordação de toda a vida passada.

OBRAS SELECIONADAS DE LUTERO V2 TÁBUA 2 CAPÍTULO 3 PG 37-39 “O PROGRAMA DA REFORMA”

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O BEM FUTURO OU A NOSSA FRENTE

8/23/2014

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O BEM FUTURO OU A NOSSA FRENTE

Aos que não são cristãos pouca consolação se pode dar dos bens futuros em seus males, porque todas as coisas são incertas, ainda que nisso seja provocador de grande inquietação aquele sentimento que se chama esperança, muito conhecida, pela qual recebemos a ordem de esperar coisas melhores na mútua consolação humana; pelo que também somos levados, com muita frequência a empreender grandes coisas ao incerto, sim, sendo sempre enganados, como ensina Cristo no Evangelho segundo Lucas 12.18,21ss. A respeito daquele que disse a sua alma: “Destruirei meus silos, e construirei maiores, e direi a minha alma: Descansa, come, bebe, festeja, alma minha; tens muitos bens para muitos anos. Disse-lhe, porém, Deus: Estulto, nesta noite pedirão de ti tua alma, e o que preparaste, de quem será? Assim é aquele que ajunta tesouros e não é rico para com Deus”.

Não obstante, Deus não abandonou os filhos dos seres humanos a tal ponto que não os consolasse com o sentimento de que o mal será removido e que o bem tomará o seu lugar; ainda que estejam na incerteza quanto ao futuro, assim mesmo esperam na certeza, pelo que são sustentados neste ínterim, para não acontecer que, no desespero pelo mal que lhes advém, não suportem o mal presente e façam coisas ainda piores. Por essa razão, mesmo este sentimento de esperança é dom de Deus, não que Deus quisesse que eles se apoiassem nela, mas no sentido de chamar a atenção para aquela esperança sólida que confia só nEle. Pois Ele é longânimo para conduzi-los à penitência, como está escrito em Rm 2.4, e também não permite que todos sejam enganados por esta esperança falaz, para ver se de algum modo voltam à razão e chegam à esperança de verdade.

Além desses bens, porém, estão reservados aos cristãos mais dois outros bens máximos, que lhes pertencerão com certeza no futuro, no entanto, através de morte e sofrimentos. É verdade que também eles se alegram naquela esperança comum incerta de que o mal presente acabará e que o bem contrário aumentará, ainda que não seja isso que os preocupe tanto, a não ser que seu próprio bem aumente, bem este que é a verdade em Cristo, no qual crescem dia a dia, por causa do qual vivem e esperam. Mas além disso, disse eu, eles têm dois bens máximos futuros na morte: Primeiro, que com a morte se põe um termo a toda a tragédia dos males desta vida, como está escrito: “Preciosa é aos olhos do Senhor a morte de seus santos” (Sl 116.15) e: “Nele dormirei em paz e descansarei” (Sl 4.9), e ainda: “se o justo for surpreendido pela morte,estará no refrigério” (Sl 4.7), ao passo que para os ímpios a morte é o início dos males, com está escrito: “A morte dos pecadores é a pior” (Sl 34.22), e: “Ao homem injusto os males assaltarão na morte”. (Sl 140.11) Assim será consolado Lázaro que aqui recebeu seus males, enquanto o glutão será torturado, porque recebeu aqui seus bens. Deste modo acontece que o cristão, quer morra, quer viva, está sempre em situação melhor. Por isso é coisa bem-aventurada ser cristão e crer em Cristo. Razão por que diz Paulo: “Para mim o viver é Cristo, e o morrer é lucro” (Fl.1.21) e em Rm14.8: “O que vive, vive para o Senhor; o que morre, morre para o Senhor; quer, pois, vivamos ou morramos, somos do Senhor”.Esta segurança Cristo no-la obteve porque morreu e ressuscitou, para ser Senhor dos vivos e dos mortos, capaz de nos oferecer segurança tanto na vida quanto na morte, conforme diz em Sl 23.4: “ Se andar em meio à sombra da morte, não temerei os males, pois tu estás comigo”. Se, porém, tal lucro na morte pouco efeito produz em nós, isto é sinal de que a fé em Cristo está fraca em nós, que ela não avalia devidamente o valor e o lucro da boa morte ou não acredita que a morte é boa, impedida que está pelo velho ser humano ainda excessivamente vivo e pela sabedoria da carne. Por isso é preciso esforçar-nos para que cheguemos ao ponto de reconhecer este benefício da morte e de amá-lo. É uma grande coisa o fato de a morte, o pior mal para outros, se tornar para nós o maior lucro. E se Cristo não nos tivesse concedido isto, que teria feito que fosse digno de tão grande empenho de si mesmo? Evidentemente é uma obra divina a que ele realizou; por isso não admira que tenha transformado o mal da morte no bem máximo.

Em consequência, para os fiéis a morte já está morta e não tem nada de terrível, exceto a aparência e a máscara. Da mesma forma a serpente morta ainda em seu terrível aspecto anterior, mas na verdade ficou ali apenas a aparência externa e um mal morto e já inócuo. Sim, da mesma forma como em Nm 21.8s. Ele ordenou erigir uma serpente de bronze, por cujo aspecto as serpentes vivas morriam, assim também morre nossa morte pela fidelíssima contemplação da morte de Cristo, e agora nada mais aparece do que uma imagem da morte. Assim, com estas belas figuras, a misericórdia de Deus preludia a nós pessoas fracas que a morte, ainda que não deva ser afastada, assim mesmo está esvaziada a tão somente uma aparência de seu poder, razão porque as Escrituras preferem chamá-lo de sono em vez de morte. O segundo bem da morte é que ela não só põe um termo aos males dos castigos da vida, mas, o que é de proveito ainda maior, põe um fim nos vícios e pecados, o que torna a morte bem mais desejável às almas fiéis, como dissemos acima, do que o bem já referido, visto que os males da alma, os pecados, são incomparavelmente piores do que os males do corpo. Se compreendêssemos essas coisas, só elas já seriam suficientes para tornar-nos a morte amabilíssima. Se, porém, não o fazem é sinal de que não sentimos nem odiamos os males de nossa alma o suficiente. Visto que esta vida é extremamente perigosa, assediados que estamos  de todos os lados pelo pecado escorregadiço, e que não podemos viver sem pecado, a excelente morte nos liberta desses perigos e arranca de nós o pecado até as mais profundas raízes, razão por que Sb 4.10 ss. discursa para o louvor do justo: “ Agradando a Deus, fez-se amado e, vivendo entre pecadores, foi trasladado.  Foi arrebatado para que a malícia não mudasse o seu intelecto, ou as ideias fictícias não enganassem sua alma. Pois a fascinação da frivolidade obscurece as coisas boas, e a inconstância da concupiscência perverte o espírito sem malícia (oh, quanto isso é verdade e frequente!). Consumado em breve, completou muito tempo. Pois sua alma era agradável a Deus, por isso apressou-se a tirá-lo do meio da iniquidade”.

Assim (pela misericórdia de Deus) a morte, que foi o castigo para o pecado do ser humano, se tronou para o cristão o fim do pecado e o começo da vida e da justiça. Por isso, quem ama a vida e a justiça não deve apavorar-se diante da ministra e oficina das mesmas, a morte,  mas amá-la. De outro modo jamais alcançará nem a vida nem a justiça. Quem, entretanto, não o pode, ore a Deus para que o possa. Pois somos ensinados a dizer: “Seja feita tua vontade” (Mt 6.10) porque de nós mesmos somos incapazes de fazê-la, nós que, temendo a morte, amamos mais a morte e o pecado do que a vida e a justiça. Pois que Deus ordenou a morte para extinção do pecado, pode ser concluído também do fato de, logo após o pecado, ter imposto a Adão a morte como emenda do pecado, e isso antes de expulsá-lo do paraíso, para nos mostrar que a morte não nos causa mal nenhum, mas todo o bem, visto que no paraíso foi imposta como penitência e satisfação. Pois é verdade que a morte entrou no orbe terrestre por causa da inveja do diabo, mas foi a exímia bondade de Deus que não só permitiu à morte assim ingressa que causasse prejuízo, mas, mantida cativa, a destinou a ser pena e morte para o pecado logo desde seu início.

Isso significou que, tendo permitido a morte de Adão no mandamento, não silenciou depois, mas impôs a morte uma vez mais, moderando, porém, o rigor do mandamento, inclusive não lembrando a morte com uma sílaba sequer, mas dizendo apenas: “Tu és pó, e ao pó tornarás” e até que voltes à terra da qual foste tomado” (Gn 3.19), como se já então tivesse tanto ódio à morte que não queria dignar-se sequer a mencioná-la, segundo aquela palavra: “Pois a ira está em sua indignação e a vida em sua vontade” (Sl 30.6), como se quisesse dizer que, se a morte não tivesse sido necessária para abolição do pecado, ele não quereria tomar conhecimento dela nem nomeá-la, muito menos impô-la. A tal ponto, por outro lado, chegou a rivalidade de Deus contra o pecado, por ter causado a morte, que outra coisa não faz do que armar a própria morte contra ele, para que aqui se veja o que diz o poeta: “O artífice da morte morre por sua própria arte”; o pecado se arruína por seu próprio fruto e é assassinado pela morte que ele próprio gerou, tal como a víbora é morta por sua própria prole. Este é o mais belo espetáculo: Ver como o pecado é arruinado não por obra alheia, mas por sua própria obra, degolado por sua própria espada e, como Golias, decapitado por sua própria espada. Pois também Golias foi uma figura do pecado, um gigante terrível para todos, exceto para o pequeno Davi, isto é, Cristo, que prostrou sozinho, tendo-o decapitado com sua própria espada, pois, como diz em 1 Rs 21, não havia espada melhor do que a de Golias.

Se, portanto, meditarmos nessas alegrias do poder de Cristo e nos dons de sua graça, como nos atormentará um mal pequeno quando vemos tão grandes bens num mal futuro tão grande?

OBRAS SELECIONADAS DE LUTERO V2 TÁBUA 2 CAPÍTULO 2 “O PROGRAMA DA REFORMA”        

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A PRIMEIRA IMAGEM "O BEM DENTRO DE NÓS"

8/21/2014

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CAPÍTULO 1

A PRIMEIRA IMAGEM “O BEM DENTRO DE NÓS”

Quem seria capaz de enumerar só os bens que cada qual possui em sua pessoa? Em primeiro lugar, Quão grandes são os dotes do corpo! A beleza, a força, a saúde, a vivacidade dos sentidos, acrescidos no homem do nobilíssimo sexo, que o torna idôneo para gerir muitos negócios particulares e públicos, bem como para executar feitos extraordinários, do que a mulher está excluída. Que há de grande nisso se, por 10, 20, 30 anos tivesses feito uso desses excelentes dons, com volúpia, como dom de Deus, e num desses anos tivesses, de vez em quando, um ou 10 dias de dificuldades? Os vagabundos têm um provérbio: “Trata-se de um mau momento”, e ainda: “Uma boa hora vale uma hora má”. Que devemos fazer nós que recebemos muitas horas boas e não queremos suportar sequer uma hora má? Vemos, portanto, com quantos bens de Deus somos cobertos e por quão poucos males mal somos atingidos, pelo menos a maioria de nós.

Não satisfeito, porém, com esses bens, o ótimo Deus ainda acrescenta riquezas, abundância de todas as coisas, ainda que não para todos, com certeza para muitos e de modo especial para aqueles que são fracos demais para suportar os males. Pois (como disse antes) a quem dá menos bens ou dotes corporais, a este dá mais dotes espirituais, para que tudo seja igual e ele próprio justo juiz de todos. Pois muitas riquezas não consolam tanto quanto um espírito alegre. Além disso, a alguns dá prole, o maior prazer (como se diz), poder, domínio honra, fama, glória, favor, etc.; e se todas essas coisas forem dadas para fruir por longo tempo, sim, também por curto tempo, ensinarão com facilidade o que fazer no caso de um mal pequeno.

Os bens do Espírito, entretanto, são mais excelentes do que estes, quais sejam: O talento, a ciência, a eloquência, a prudência; mas também neles como nos demais, ele estabelece a igualdade de seu governo, de sorte que não dá preferência àqueles aos quais concedeu mais, sobre outros aos quais, em compensação, concedeu maior paz ou alegria de espírito. Em tudo isso, porém, é preciso atentar com gratidão para a mão generosa de Deus e consolar nossa fraqueza, para que não nos admiremos se à quantidade e magnitude de bens se mistura alguma amargura, visto que também às pessoas voluptuosas não agrada nem o assado sem salmoura nem quase nenhuma outra comida sem algum gosto amargo de natureza ou resultante de algum condimento. A tal ponto é insuportável a eterna e exclusiva doçura, de sorte que está certo quem disse: “Todo gozo gera o fastio por sua assiduidade”, e outro: “Por fim o gozo se torna um esforço”. Quer dizer: Esta vida é incapaz de poder usufruir somente coisas boas. Daí originou-se também o provérbio: “É preciso que sejam fortes os ossos para suportar dias bons”. Por isso, sempre que considero este provérbio, admiro-me como é maravilhoso e verdadeiro seu conteúdo: A vontade das pessoas luta contra a própria vontade, pois nada buscam além de dias bons, aos quais, tendo-os alcançado, conseguem suportar menos para os maus.

Que nos encarece Deus neles senão que a cruz é maravilhosa também nos próprios inimigos da cruz, ao ponto de ter que temperar e santificar todas as coisas com suas relíquias, para que não pereçam, como se salga a carne para criar bicheira? Por que razão não aceitamos com muito prazer este tempero enviado por Deus, pelo qual nossa vida, incapaz de suportar os gozos e as coisas boas, chamaria espontaneamente se Ele não a enviasse? Assim acontece que descobrimos como é verdadeiro o que disse o sábio a respeito de Deus: “Que atinge fortemente de uma extremidade à outra e dispõe tudo de forma agradável”. (Sb 8.17) Se analisarmos estas coisa boas, revelar-se-á verdadeiro também o que diz Moisés em Dt 32.10s.: “Carregou-o com os seus ombros, o conduziu em redor e o protegeu como a pupila do olho”. Com isso podemos tapar a boca daqueles que, ingratos, tagarelam que nesta vida haveria mais coisas ruins do que boas, visto que não faltam as coisas boas e uma infinidade de comodidades agradáveis; o que falta são aqueles que reconhecem isto com aquele que diz: “A terra está cheia da misericórdia do Senhor” (Sl 33.5), e ainda: “A terra está cheia de seu louvor” (Is 6.3), e em Sl 103(104).24: “A terra está cheia de tua posse”. “Deleitaste-me, Senhor em tuas obras”. (Sl 92.4) Por isso cantamos todos os dias na missa : “Os céus e a terra estão cheios de tua glória”. Por que isso? Porque são muitas as coisas boas pelas quais deve ser louvado, mas apenas por aqueles que reconhecem esta plenitude. Como dissemos a respeito dos males na primeira imagem, os males de cada um são tantos quantos julga ter e quanto conhecimento tem deles; assim também as coisas boas, ainda que nos venham ao encontro e nos cubram de todos os lados, apenas são tão grandes quanto julgamos que sejam. Pois todas as coisas que Deus fez são muito boas, porém, não são reconhecidas como tais por todos.  Assim também fizeram aqueles dos quais diz Sl 106.24: “E consideraram como nada a terra desejável”.

Exemplo belíssimo e eruditíssimo dessa imagem nos fornece Jó, que disse, após a perda de todos os bens: “ Se recebemos as coisas boas da mão do Senhor, por que não suportaríamos os males”? (Jó 2.10) Esta é uma palavra verdadeiramente áurea e um forte consolo na tentação, pois ele não apenas sofreu, mas ainda foi tentado para a impaciência pela mulher que lhe disse: Ainda continuas em tua inocência? Bendize ao Senhor, e morre (Jó 2.9), como se quisesse dizer: “É evidente que não é Deus este que te abandona desta forma”. Por que então confias nele, em vez de, muito antes, tendo-o negado e maldito, te reconheceres como homem mortal a quem nada mais resta após esta vida? Isso e coisas semelhantes sugere a cada qual sua mulher (isto é, sua sensualidade) na tentação, porque os sentidos não percebem as coisas de Deus.

Contudo, tudo isso são bens corporais, comuns a todos; o cristão, porém, sobressai com outros bens interiores muito melhores, isto é, a fé em Cristo, a respeito da qual está dito em Sl 44(45).14: “Toda a glória da filha do rei é interior, nas fímbrias áureas, circuncidada com variedade”. Pois assim como dissemos do mal na primeira imagem, que no ser humano não pode haver mal tão grande que possa ser considerado o pior dos que estão nele, da mesma forma o cristão não pode ver o melhor dos bens que está dentro dele. Pois se o sentisse, já estaria no céu, visto que o reino dos céus (como disse Cristo) está dentro de nós. Pois ter fé é ter a verdade e a palavra de Deus, e ter a palavra de Deus é ter o Criador de todas as coisas. E se fosse revelado à alma quão grandes são esses bens, ela se separaria do corpo naquele mesmo instante por causa da excessiva abundância de gozo. Por isso está correto que os demais bens, aos quais nos referimos, são como que lembranças dos bens que temos dentro de nós, bens estes que ele quer encarecer-nos por meio daqueles. Visto que esta vida não suportaria que sejam revelados, eles são, misericordiosamente, escondidos por Deus até que cresçam à sua medida perfeita. É o que ocorre com pais dedicados que às vezes presenteiam os filhos com presentes insignificantes e pequenos para com eles provocá-los à esperança de coisas maiores.

No entanto, às vezes também eles se mostram e se externam, a saber, quando a consciência contentada se alegra na confiança de Deus, tem prazer em ouvir sua palavra, se torna disposta e alegre para lhe servir, para boas obras, para suportar os males, etc. Todas estas  coisas são indícios do bem infinito e incomparável que ali jaz latente e que verte para fora pinguinhos e pequenas gotas por uma fonte pequenina. Assim mesmo acontece, por vezes, que a almas mais contemplativas é revelado algo mais, de sorte que, absortas, não sabem onde estiveram, como confessam a respeito de si mesmos Sto. Agostinho e sua mãe, e muitos outros.

OBRAS SELECIONADAS DE LUTERO V2 TÁBUA 2 CAPÍTULO 1 “O PROGRAMA DA REFORMA”   

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