A mensagem do Apocalipse foi enviada principalmente “às sete Igrejas que estão na Ásia” (1.4). Este fato é frisado várias vezes no primeiro e no último capítulo (1.4,11,20; 22.16). Os capítulos 2 e 3 são direcionados especificamente às Igrejas, com uma mensagem especial para cada uma delas. Os ensinamentos contidos nas cartas às sete Igrejas da Ásia devem ser aplicados às Igrejas de nossos dias.
Ao anjo da Igreja em Éfeso (2.1-7)
2.1 - Ao anjo da Igreja em Éfeso escreve: Isto diz aquele que tem na sua destra as sete estrelas, que anda no meio dos sete castiçais de ouro:
A Igreja em Éfeso: Éfeso era a cidade mais importante da província romana da Ásia. Era situada às margens do rio Caístro, perto de sua foz no mar Egeu. Duas estradas importantes se cruzavam em Éfeso, uma seguindo a costa e a outra continuando para o interior, passando por Laodicéia. Sendo assim, Éfeso tinha uma localização importantíssima de ligação entre os dois lados do Império Romano (a Europa e a Ásia). Historiadores geralmente calculam a população da cidade no primeiro século entre 250.000 e 500.000 habitantes. Éfeso era conhecida também, como o foco de adoração à deusa Artemis, ou Diana. Sabemos alguma coisa sobre a história da Igreja em Éfeso através de outros livros do Novo Testamento. No final de segunda viagem, Paulo deixou Áqüila e Priscila em Éfeso, onde corrigiram o entendimento incompleto de Apolo sobre o caminho do Senhor (Atos 18.18-26). Na terceira viagem, Paulo voltou para Éfeso, onde pregou a palavra de Deus por três anos (Atos 19.1-41; 20.31). Na volta da mesma viagem, passou em Mileto e encontrou-se com os presbíteros de Éfeso (Atos 20.17-38). Durante os anos na prisão, Paulo escreveu a epístola aos efésios. Também, deixou Timóteo em Éfeso para edificar os irmãos (l Timóteo 1.3). Destas referências aos efésios, podemos observar algumas coisas importantes sobre essa Igreja. Desde o início, houve a necessidade de examinar doutrinas e aceitar somente o que Deus havia revelado. Assim, Áqüila e Priscila ajudaram Apolo (Atos 18.26); Paulo advertiu os presbíteros do perigo de falsos mestres entre eles (Atos 20.29-31), e orientou Timóteo a admoestar os irmãos a não ensinarem outra doutrina (l Timóteo 1.3-7). A carta de Paulo aos efésios destacou a importância do amor (5.2), um tema destacado também, nesta carta no Apocalipse.
Aquele que conserva na mão direita as sete estrelas e que anda no meio dos sete castiçais de ouro: Esta descrição de Jesus vem de 1.12-13,16,20 e mostra o conhecimento e a soberania de Jesus em relação às Igrejas. Tanto os efésios quanto os discípulos nas outras Igrejas, precisavam lembrar-se da presença de Jesus. Ele anda no meio das Igrejas, observando o procedimento delas, e pronto para agir quando for necessário. Segurando as sete estrelas, ele demonstra seu poder e domínio.
2.2-3 – E sei as tuas obras, e o teu trabalho, e a tua paciência, e que não podes sofrer os maus; e puseste à prova os que dizem serem apóstolos e o não são e tu os achaste mentirosos; e sofreste e tens paciência; e trabalhaste pelo meu nome e não te cansaste.
Elogio – conheço as tuas obras...: Jesus elogia várias qualidades da Igreja em Éfeso:
Trabalho e paciência – Deus quer servos dedicados que não desistem (Tiago 1.4), Jesus falou da importância da perseverança diante da perseguição (Mateus 10.22; Romanos 5.3; Tiago 1.12), observando que as perseguições fazem com que o amor de muitos esfrie (Mateus 24.10-13). Devemos perseverar na oração (Atos 1.14; Colossences 4.2; 1 Timóteo 5:5), na doutrina verdadeira (Atos 2.42; 1 Coríntios 15.1), nas boas obras (Romanos 2.7) e na graça de Deus (Atos 13.43). Na sua perseverança, os efésios suportaram provas e não se desanimaram.
Não suportar homens maus – Depois de tantas advertências sobre o perigo de falsos mestres (veja citações acima), a defesa da verdade se tornou um ponto forte da Igreja de Éfeso. Homens que alegavam ser apóstolos foram postos à prova e achados mentirosos (1 Jo 4.1). Precisamos do mesmo zelo da verdade hoje. O mundo religioso está cheio de pessoas que se dizem profetas e apóstolos. Elas devem ser avaliadas conforme a Palavra de Deus. Pessoas que alegam trazer novas revelações sobre a Palavra são mentirosas (Gálatas 1.8-9; 1 Coríntios 13.8-10; Judas 3). Os apóstolos eram testemunhas oculares de Jesus ressuscitado (Atos 1.22; 1 Coríntios 15.8-9). Aqueles que se chamam apóstolos, hoje em dia, são falsos mestres. Devemos rejeitá-los.
2.4 – Tenho, porém, contra ti que deixaste o teu primeiro amor.
Crítica – Tenho... contra ti...: O problema dos efésios não foi uma questão de doutrina incorreta, mas de amor. Abandonaram o seu primeiro amor. Esqueceram dos grandes mandamentos que formam a base para todos os ensinamentos de Deus (Mateus 22.37-40). Paulo instruiu os efésios sobre a importância do amor como alicerce da vida do cristão (Efésios 3.17; 4.2,16; 5.2; 6.23). Não devemos distorcer esta advertência para criar um conflito entre o amor e a verdade. Podemos defender a verdade, como os efésios fizeram e, ao mesmo tempo, praticar o amor. Foi exatamente isso que Paulo pediu aos efésios: “Mas, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo” (Efésios 4.15).
2.5 – Lembra-te, pois, de onde caíste, e arrepende-te, e pratica as primeiras obras; quando não, brevemente a ti virei e tirarei do seu lugar o teu castiçal, se não te arrependeres.
A chamada à ação – Jesus pede três respostas dos efésios:
1) Lembra-te, pois, de onde caíste: Não foram as bolotas dos porcos que levaram o filho pródigo ao arrependimento; foi a lembrança da casa do Pai. Para os efésios se arrependerem, teriam que lembrar a comunhão com Deus que deixaram para trás. Para permanecermos fiéis, a presença de Deus precisa ser a coisa mais preciosa na nossa vida. Uma vez que caímos, é necessário desenvolvermos novamente o amor para com Ele.
2) Arrepende-te: O arrependimento é a mudança de atitude. Quando decidimos deixar o pecado e fazer a vontade de Deus, nós nos arrependemos. O pecador precisa se arrepender antes de ser batizado para perdão dos pecados (Atos 2.38). O cristão que tropeça precisa se arrepender e pedir perdão pelos seus pecados (Atos 8.22). Aqui, uma Igreja cujo amor esfriou precisa se arrepender.
3) Volta à prática das primeiras obras: A mudança de atitude (o arrependimento) produzirá frutos (Mateus 3.8). Pelas obras, a pessoa arrependida mostrará a sinceridade da sua decisão. A Igreja em Éfeso precisava voltar à prática do amor.
A conseqüência se não houver o arrependimento – Se a Igreja não se arrepender, Jesus removerá o seu castiçal. Eles não permanecerão na abençoada comunhão com o Senhor.
2.6 – Tens, porém, isto: que aborreces as obras do nicolaítas, as quais eu também aborreço.
Mais um elogio – aborreces as obras do nicolaítas, as quais eu também aborreço: mais um ponto a favor, reforçando o elogio dos versículos 2 e 3. Os nicolaítas são mencionados somente aqui e verciculo 15, na carta à Igreja em Pérgamo. Não sabemos a natureza precisa do seu erro, mas sabemos que era abominável a Deus. Neste ponto, os efésios odiavam o que Deus odiava. Nós devemos fazer a mesma coisa, sendo amigos do bem (Tito 1.8) e detestando o mal (Salmo 97.10).
2.7 – Quem tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às Igrejas: Ao que vencer, dar-lhe-ei a comer da árvore da vida que está no meio do paraíso de Deus.
Quem tem ouvidos ouça..: Jesus usa aqui um apelo comum no seu ensinamento. Frequentemente, Ele chama os ouvintes a ouvirem a sua mensagem (Mateus 11.15; 13.9,43). O problema de um coração teimoso manifesta-se nos ouvidos tapados que se recusam a ouvir a verdade (Mateus 13.15). Os efésios provaram aqueles que falavam, agora eles seriam provados pela maneira de ouvirem.
O Espírito diz às Igrejas: Jesus transmitiu a sua mensagem por meio dos anjos das Igrejas (2.1,8,12,18; 3.1,7,14), mas o Espírito, também, participa da revelação (Apocalipse 1.4). O Espírito também, participa da recompensa, como Ele nos diz no final do versículo 7.
Ao vencedor...árvore da vida ...paraíso de Deus: A recompensa aguarda os vencedores que perseverarem no amor e na verdade. Aqueles que desistem, abandonando para sempre o seu amor, não receberão o galardão. Jesus descreve a comunhão com Deus em termos que nos lembram do jardim do Éden. Por causa do pecado, o homem foi expulso do jardim onde Deus andava (Gênesis 3.22-24). Aqueles que andam com Deus têm a esperança da vida no paraíso do Senhor.
Conclusão:
Uma Igreja rodeada por religiões falsas e sujeita a influência de homens maus, precisa examinar todos os ensinamentos e rejeitar todas as falsas doutrinas. Mas ela precisa também demonstrar o amor verdadeiro para vencer o mal. Devemos amar a verdade, não somente pelo desejo de sermos corretos, mas porque ela provem do Deus que merece o nosso amor. Devemos amar aos outros, porque foram feitos à imagem e semelhança de Deus. “Amados, se Deus assim nos amou, também nós devemos amar uns aos outros” (1 João 4.11).
Pr. Afonso