Por isso vemos como aqueles aos quais é dado conhecer seu verdadeiro mal procedem com atrocidade contra si próprios, de sorte que consideram nada tudo que possam sofrer em toda a vida, contanto que não sintam seu próprio inferno. Assim procederia qualquer um se sentisse e cresse firmemente em seu mal interior, espontaneamente chamaria os males externos, divertir-se-ia com eles e jamais estaria mais triste do que quando não sofresse males, como fizeram alguns santos, conforme bem sabemos, por exemplo, Davi no Salmo 6.
A primeira imagem consolatória, portanto, é dizer a si mesmo: "Ó ser humano, por enquanto ainda não sentes teu mal. Alegra-te e sê grato porque não és obrigado a senti-lo." Assim, pela comparação com o máximo, o mal pequeno se torna leve. É isto que outros dizem: "Mereci algo bem pior, até mesmo o inferno" -- algo tão fácil de dizer, mas insuportável de sentir.
Por mais, porém, que este mal seja latente, ainda assim produz frutos claramente perceptíveis. Tais são o temor e a incerteza da consciência abalada, pela qual é atacada a fé, quando a pessoa não sabe ou duvida se tem um Deus propício, fruto esse que é tanto mais amargo quanto mais fraca é a fé. E se tal fraqueza é avaliada condignamente, por ser espiritual, ela terá bem mais peso do que a fraqueza corporal, a qual também se torna levíssima quando comparada cuidadosamente com aquela.
Além disso conta entre os males internos toda aquela tragédia que o Eclesiastes descreve, quando se refere tantas vezes à vaidade e aflição do espírito. Quantos propósitos tomamos em vão! Quantos desejos nossos são frustrados! Quantas coisas vemos, quantas coisas ouvimos contra nossa vontade! E mesmo as coisa que correm segundo nosso desejo correm também contra nosso desejo. A tal ponto nada é completo e perfeito. Depois, todos estes males são tanto maiores quanto mais alto o posto ou a posição em que alguém se encontra. Tal pessoa pessoa deve necessariamente passar por bem mais e maiores perturbações, tumultos e tempestades do que as demais que sofrem na mesma situação, como diz, com razão, Sl 104.25: no mar deste mundo existem animais pequenos e grandes répteis sem número, quer dizer, uma infinidade de tentações; por causa disso também Jó 7.1 chama a vida da pessoa uma tentação.
Estes males, no entanto, não deixam de ser males porque são menos percebidos, mas porque são aviltados pelo uso e pela assiduidade e porque, pela ação de Deus, são enfraquecidos os sentimentos e pensamentos relativos a eles. Por isso comovem raras vezes a nós que não aprendemos ainda a desprezá-los por meio da experiência. A tal ponto é verdade que dificilmente sentimos a milésima parte de nossos males. A tal ponto, por fim, é verdade que medimos, sentimos ou deixamos de sentir nossos males não pelo que são de fato, mas pelo que pensamos e sentimos a seu respeito.
OBRAS SELECIONADAS DE LUTERO V2 CAP1 PG 17-18 "O PROGRAMA DA REFORMA" ,
A primeira imagem consolatória, portanto, é dizer a si mesmo: "Ó ser humano, por enquanto ainda não sentes teu mal. Alegra-te e sê grato porque não és obrigado a senti-lo." Assim, pela comparação com o máximo, o mal pequeno se torna leve. É isto que outros dizem: "Mereci algo bem pior, até mesmo o inferno" -- algo tão fácil de dizer, mas insuportável de sentir.
Por mais, porém, que este mal seja latente, ainda assim produz frutos claramente perceptíveis. Tais são o temor e a incerteza da consciência abalada, pela qual é atacada a fé, quando a pessoa não sabe ou duvida se tem um Deus propício, fruto esse que é tanto mais amargo quanto mais fraca é a fé. E se tal fraqueza é avaliada condignamente, por ser espiritual, ela terá bem mais peso do que a fraqueza corporal, a qual também se torna levíssima quando comparada cuidadosamente com aquela.
Além disso conta entre os males internos toda aquela tragédia que o Eclesiastes descreve, quando se refere tantas vezes à vaidade e aflição do espírito. Quantos propósitos tomamos em vão! Quantos desejos nossos são frustrados! Quantas coisas vemos, quantas coisas ouvimos contra nossa vontade! E mesmo as coisa que correm segundo nosso desejo correm também contra nosso desejo. A tal ponto nada é completo e perfeito. Depois, todos estes males são tanto maiores quanto mais alto o posto ou a posição em que alguém se encontra. Tal pessoa pessoa deve necessariamente passar por bem mais e maiores perturbações, tumultos e tempestades do que as demais que sofrem na mesma situação, como diz, com razão, Sl 104.25: no mar deste mundo existem animais pequenos e grandes répteis sem número, quer dizer, uma infinidade de tentações; por causa disso também Jó 7.1 chama a vida da pessoa uma tentação.
Estes males, no entanto, não deixam de ser males porque são menos percebidos, mas porque são aviltados pelo uso e pela assiduidade e porque, pela ação de Deus, são enfraquecidos os sentimentos e pensamentos relativos a eles. Por isso comovem raras vezes a nós que não aprendemos ainda a desprezá-los por meio da experiência. A tal ponto é verdade que dificilmente sentimos a milésima parte de nossos males. A tal ponto, por fim, é verdade que medimos, sentimos ou deixamos de sentir nossos males não pelo que são de fato, mas pelo que pensamos e sentimos a seu respeito.
OBRAS SELECIONADAS DE LUTERO V2 CAP1 PG 17-18 "O PROGRAMA DA REFORMA" ,